Reflexão as estrelas

Dentro de nós há cavernas onde ficam os ecos dos nossos gritos. Dos gritos que não expressamos quando tudo em nós agonizava. Quando o nosso silêncio gritava dentro de nós.
Nós? Sim, nós... Eu, a humanidade, todos nós temos gritos calados em um canto do nosso ser. Se todos gritássemos ao mesmo instante, liberando o eco preso das nossas emoções, arrebentaríamos os tímpanos do mundo. E, quem sabe, Deus nos ouviria. Pois o silêncio é a resposta sem resposta, depois de nossas lágrimas. Lágrimas inocentes, que esfriam logo ao rolar na face...
Quando olhamos para a face do mundo, percebemos que nem mesmo o sol aquece a frieza das expressões humanas, que se enganam sempre ao expressar a palavra sagrada da qual os homens ainda não conhecem o significado. O amor é sagrado, tento entendê-lo, mas está além da minha imaginação outro nome para simbolizar o sentimento que chamamos de amor.
Há momentos em que olho para o inferno e o paraíso perdidos dentro de mim. Sinto-me segurando uma taça contendo um vinho amargo que, em momentos, o sabor se confunde com a vida e noutros com a morte. Esses dois extremos andam em conflito dentro de nós. E há momentos em que eu já não sei se somos eternos e a morte é uma utopia silenciosa, ou a vida não existe enquanto achamos que estamos vivos. E realmente vivemos quando morremos.
Se eu tivesse um último pedido, eu usaria as palavras de um jovem Galileu que dizia: ‘Pai, afasta de mim este cálice’, mas eu não posso falar, pois sinto que ninguém me escuta.
Eu não quero questionar sequer se Deus existe; por que eu sinto que Ele está tão vivo dentro de mim e fora de mim, mas Ele não me escuta e, se escuta, Ele não me responde; se me responde eu não escuto, pois eu devo ser um estúpido surdo que não compreende as respostas de Deus. Talvez Ele me responda com a expressão de uma erupção vulcânica, mas só sinto medo, só vejo destruição nas lavas quentes e, por ignorância, não percebo a beleza desta festa chamada vida.
Estou confuso... Ficarei em silêncio, apenas em silêncio e quem sabe eu não descubra que a resposta seja tão sutil como o prisma que transforma a luz, da mesma forma como as gotículas de chuva criam a miragem do arco-íris. Eu não seria mais nada. Não conseguiria trabalhar e erguer as mãos para mover algo se não fosse tão profundo como o sentimento; por esta razão, ainda me sinto livre, pois tenho a arte.
E esta é a força que me lança no arco da vida, à procura de mim mesmo em meio ao abstrato da tela confusa, em que os pincéis dançam em minhas mãos. Sinto Deus, respondendo-me de forma natural. É neste momento que eu descubro que sei. E o que acredito já não importa, pois Deus está em mim e eu estou n'Ele, independentemente da minha crença.
Não há resposta que nos convença de forma tão coesa como a melodia, pois a música para mim, é a maior expressão da vida. E é nas suas notas que ouço a voz de Deus.
Você, estrela, pode ouvir-me; só você, estrela, pode compreender-me, pois somos iguais. Enquanto você me olha do infinito, daqui eu a contemplo no solo frio. E sei que você é solitária igual a mim, neste vasto infinito.
Trecho do livro: O prelúdio do desejo
Do escritor Carlos Reis Agni

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